Choques elétricos e abuso sexual

Choques elétricos

Os choques elétricos, como forma de tortura, não são tão antigos quanto outros métodos amplamente utilizados - os homens só aprenderam a usar a eletricidade no fim do século 19. Entretanto, uma vez popularizada, a eletricidade logo passou a ser empregada como método de tortura. Os "americanos não apenas desenvolveram a energia elétrica", diz o expert em tortura Darius Rejali, "mas inventaram os primeiros dispositivos de tortura elétrica usados nas delegacias do Arkansas a Seattle" [fonte: Boston Globe (em inglês)]. Os choques elétricos podem ser dados com a ajuda de armas de choque, estimuladores de gado e dispositivos de terapia eletroconvulsiva (em inglês - ECT).

Electroconvulsive therapy
Carl Purcell/Three Lions/Getty Images
Os dispositivos de terapia eletroconvulsiva foram desenvolvidos nos anos 30 e, por volta de 1955, eram usados no tratamento da depressão. Esses dispositivos são usados para torturar porque causam dor e confusão sem matar o preso

Esse tipo de tortura pode ser tão brutal como fazer passar a tensão da bateria do carro pelo corpo da vítima que segura os cabos. Os choques são usados como método de tortura porque são baratos e eficazes. Um sobrevivente checheno de 22 anos conta que foi torturado pelos militares russos (em inglês) com o uso da eletricidade: "eles me deram choques elétricos nas unhas das mãos e dos pés para que eu fosse obrigado a arrancá-las depois" [fonte: Amnesty International Danish Medical Group (em inglês)]. Além disso, os choques elétricos quase não deixam vestígios. Um expert sugere que "torturadores preferem torturas elétricas, pois as únicas marcas deixadas por elas são pequenas queimaduras e é muito fácil alegar que esses ferimentos foram causadas pelos próprios torturados" [fonte: Rejali (em inglês)].

Abuso sexual

O estupro (em inglês) é uma forma muito comum de tortura, sobretudo em tempos de guerra. Homens, mulheres e crianças têm sido estuprados durante conflitos em todo o mundo. Na Guerra dos Bálcãs (em inglês), nos anos 90, as mulheres bósnias (em inglês) muçulmanas (em inglês) foram vítimas de sistemáticos abusos sexuais pelos soldados sérvios (em inglês). De 2000 a 2006, no Congo, mais de 40 mil mulheres e crianças foram violentadas [fonte: The Guardian (em inglês)]. Estima-se que 25 mil mulheres foram vítimas da violência sexual em Ruanda (em inglês), nos anos 90.

De acordo com os relatos das vítimas, os soldados chegaram a dizer que elas "seriam mantidas vivas para que pudessem morrer de tristeza" [fonte: The Guardian]. Tanto homens quanto mulheres são vítimas de abusos sexuais. Independentemente do agressor usar seu próprio corpo ou algum outro instrumento, qualquer forma de penetração forçada no corpo da vítima deve ser considerada estupro. Especialistas acreditam que a estimativa do número de homens sexualmente violentados seja baixa porque os "homens não costumam dizer que foram estuprados". Ambos os sexos geralmente têm as mesmas dificuldades decorrentes da violência sexual e muitas vezes precisam de ajuda para voltar a ter uma vida sexual normal" [fonte: Burnett and Peel (em inglês)].

Embora o abuso sexual tenha uma definição específica, alguns especialistas afirmam que toda tortura é um forma de abuso, pois o corpo da vítima é violentado. Na próxima página leia sobre dois outros métodos de tortura: pendurar a vítima pelos membros e simular execuções.

Pendurar a vítima pelos membros e simular execuções

Pendurar a vítima pelos membros

Durante a Guerra do Vietnã (em inglês), os vietcongues usaram uma forma de tortura chamada "cordas". No livro "Human Adaptation to Extreme Stress: From the Holocaust (em inglês) to Vietnam," (Adaptação do Homem ao Stress Extremo: do Holocausto ao Vietnã), os autores descrevem esse tipo de tortura a que muitos soldados americanos (em inglês) foram submetidos depois de capturados, explicando que "embora existissem diversas variações dessa tortura, ela geralmente consistia em amarrar os cotovelos atrás das costas e puxar até que eles se tocassem ou até que as costas se arqueassem com a corda esticada dos pés à garganta" [fonte: Wilson, et al (em inglês)]. A tensão provocada nos músculos por esse tipo de tortura (–que era reforçada ao se pendurar as vítimas pelos pés e mãos) pode causar danos permanentes aos nervos.

Man hanging by arms­
Rischgitz/Getty Images
Nesta pintura de A. Steinheil, um tribunal do século 15 usa cordas para obter uma confissão

A dissidente turca (em inglês) Gulderen Baran foi torturada pela polícia quando tinha apenas 22 anos. Além de sofrer outros tipos de tortura, ela foi pendurada pelos braços, presos em uma cruz de madeira, com seus pulsos amarrados atrás das costas. Baran perdeu a força e o movimento em um braço e outro ficou completamente paralisado [fonte: Anistia Internacional].

Simulações de execuções

A simulação de execução ocorre quando a vítima acha que vai ser morta ou que algum de seus entes queridos foi ou será morto. Uma das modalidades desse tipo de tortura pode ser ameaçar a vítima de morte, ou vendar seus olhos, colocar uma arma descarregada em sua nuca e apertar o gatilho. Qualquer ameaça de morte está incluída na categoria de execução simulada. O water boarding é um exemplo de execução simulada que consiste em imobilizar a vítima, cobrir nariz e boca e jogar água em seu rosto para que pense que está se afogando.

O Manual das Forças Armadas dos EUA proíbe expressamente que soldados utilizem esse tipo de tortura [fonte: Levin (em inglês)]. Entretanto, surgiram relatos de que alguns militares dos Estados Unidos estariam simulando afogamentos na Guerra do Iraque (em inglês). Em 2005, um iraquiano interrogado por roubar uma loja de armas foi obrigado a escolher um de seus filhos para morrer pelo seu crime. Os torturadores, então, levaram o filho para a parte de trás de um prédio, fora da visão do homem, e atiraram, fazendo-o pensar que seu filho havia sido executado. Dois anos antes, dois militares foram investigados por simular execuções. Em uma ocasião, um iraquiano (em inglês) foi levado até uma área remota e obrigado a cavar sua própria cova para que pensasse que os soldados americanos atirariam nele [fonte: AP (em inglês)].

Os militares americanos certamente não são o único grupo a violar as leis internacionais que proíbem execuções simuladas. Em 2007, 15 britânicos foram capturados pela Guarda Revolucionária do Irã. Depois da segunda noite, os prisioneiros foram alinhados de frente para uma parede, vendados e ajoelhados. Atrás deles, eles ouviram as armas serem engatilhadas e disparadas para o alto [fonte: Daily Mail (em inglês)].

Apesar da proibição, as simulações de execuções continuam sendo usadas como formas de tortura - talvez devido à eficácia em conseguir que o detido fale ou faça o que se pretende. Os efeitos de tais ameaças na vida da vítima são profundos e permanentes: O Centro para Vítimas de Tortura diz que as vítimas de execuções simuladas contam que têm flashbacks, "sentindo como se já estivessem mortas" e que chegam a implorar que seus torturadores as matem para que não tenham mais que ser torturadas daquela maneira [fonte: CVT].